Quando um motivo encontra um anseio, uma vontade ou mesmo um desejo, coisas incríveis podem acontecer. E, quando o motivo e o desejo se atravessam, vemos caminhos e possibilidades costurarem o real.
Aconteceu nos dias 28 e 29 de Outubro no Teatro Renascença em Porto Alegre, o primeiro festival Quintal da Pedra Redonda: uma nova - dentre tantas - centelhas de esperança que esta coletividade fez existir no mundo. Uma celebração de pessoas, lugares, artistas e sons que carregou consigo energias dignas da transição para um novo tempo.
Da esquerda para a direita: Vinícius Angeli, Pedro Borghetti, Tamiris Duarte, Wagner Lagemann, Paola Kirst, Venancio da Luz, Thaís Andrade. Dionísio Souza, Clarissa Ferreira, Dessa Ferreira, Dona Conceição, Paulo Romeu, Dionísio Souza, Lucas Fê, Paola Kirst e Marcelo Vaz
O festival, realizado de forma independente pelo coletivo Pedra Redonda, que orbita e habita o Estúdio Pedra Redonda de Wagner Lagemann, materializou uma vez mais sua capacidade de mobilizar e mover corações, mentes, corpos e sentidos na construção de algo que, além de transcender as paredes do estúdio, transcendeu também as paredes do teatro Renascença. Artistas, profissionais e gentes de toda estrada, interessadas e interessados em dar vez ao som e as vozes de quem vive, faz e é música.
O line-up contou com artistas que gravaram e circundam o estúdio e o coletivo. Ao primeiro dia do festival, apresentações de Dona Conceição, Dessa Ferreira, Venancio da Luz Sexteto e Paola Kirst + Kiai Grupo. Já o segundo dia contou com apresentações de Dionisio Souza, Tami Trio + Paulo Romeu, Clarissa Ferreira e Pedro Borghetti + CeronFlachNeves. Os shows contaram com diferentes composições, formatos e diversas participações. Dentre elas, artistas como Fabricio Gambogi, Dessa Ferreira, Gutcha Ramil, Paola Kirst, Tamiris Duarte, Lucas Fê, Dionisio Souza, Idòwú Akínrúli, Mel Souza, Gabriela Lamas, Emily Borghetti, Pedro Roots e Guilherme Ceron. Você pode conferir a lista detalhada de cada apresentação mais adiante.
O Quintal da Pedra Redonda ocupou ainda mais espaços do Centro Municipal de Cultura Lupicínio Rodrigues, onde habita o Teatro Renascença. Com comidas veganas, bebidas e sorrisos oferecidos por parceires como Livre! Cozinha Experimental e Cervejaria DaLuz e projeções de vídeos por 229 Visuais, ocorreu também uma roda de conversa sobre práticas em coletivo. O encontro, mediado por Thais Andrade - que para além de ser linha de frente da produção e iluminação do Festival, abriu também as portas não apenas da Pedra Redonda. Com a participação de integrantes do Instituto Sociocultural Afro-Sul Odomodê, OCorre Lab e Armazém Sonoro, uma vez mais o coletivo conectou pessoas e práticas de todas as formas e cantos.
Sempre que posso, faço uso do texto curatorial de Júlia Rebouças e Diego Matos sobre a obra de Cildo Meireles. Uma vez terminado o festival, uma vez que nossas dores viraram sorte, me deparei com a seguinte passagem sobre espaço, onde dizia que “trata-se do espaço humano da experiência, ampliado por aquilo que nos é tangível e perceptível pelos nossos sentidos”. Quando falo em coletivo-espaço, falo dessa experiência humana. Tangível, perceptível e divergente da lógica individual-competitiva que assola nossos tempos.
A Pedra Redonda é preciosa. Um diamante bruto que vem sendo lapidado a muitas mãos, cuidado e afeto por multiartistas e profissionais que entendem o som, as artes e o trabalho enquanto oração, tal qual canta Marcelo Delacroix. Para além dos sentimentos e sensações, há em mim uma grande aposta de que os brilho da Pedra, suas práticas e aqueles e aquelas que a compõem poderá iluminar caminhos, palcos, olhos e ouvidos para além das fronteiras do Sul.
A primavera ideal deverá ter todas as cores e sotaques de nossa vastidão territorial. E de certo, meio a ela estarão todas e todos aqueles que além de desafiar as tradições locais, entenderam que a tarefa da produção é uma tarefa coletiva.
Expressões apaixonadas pelas cintilâncias desse coletivo-espaço à parte, o estar e a presença nos dão dimensões e camadas a processos. A presença rompe o plano das ideias e do imaginário. Poder estar na presença - após tantas distâncias acumuladas pela penumbra que nos assolou e isolou - foi também testemunhar tamanho empenho, tempo e trabalho coletivo para que essa experiência-evento fosse realizada.
O texto que você lê é o primeiro de uma série de registros. De desenvolvimento de ideias através das artes e das sensibilidades. De mediação através. Pelo caminho, textos, registros e fragmentos sobre artistas e coletividades envolvidos nesta empreitada. Mais um motivo que encontra um desejo: refletir sobre a grandeza de suas expressões no mundo. Até lá, convido todas a conhecer esse grande ajuntamento para que embarquemos juntos nessa jornada.
E viva à Pedra Redonda!
Para conhecer: Pedra Redonda no Instagram Pedra Redonda no Youtube
Festival Quintal da Pedra Redonda 28 de Outubro (Sexta-Feira)
Dona Conceição Part. Fabricio Gambogi, Dessa Ferreira e Gutcha Ramil
Dessa Ferreira Part. Idòwú Akínrúli, Dionísio Souza, Paola Kirst, Tamiris Duarte e Lucas Fê
Venancio da Luz Sexteto Bibiana Turchiello, Tamiris Duarte, Gabriel Romano, Jean Godoy e Lucas Fê
Paola Kirst e Kiai Grupo Dionísio Souza, Marcelo Vaz e Lucas Fê Part. Mel Souza e Gabriela Lamas
29 de Outubro (Sábado)
Dionísio Souza Part. Lucas Fê, Paola Kirst e Tamiris Duarte
Tami Trio + Paulo Romeu Tamiris Duarte, André Brasil e Lucas Fê Part. Dionísio Souza, Emily Borghetti, Paola Kirst e Pedro Roots
Clarissa Ferreira
Ana Matielo, Tamiris Duarte e Lucas Ramos
Part. Emily Borghetti, Lucas Fê e Guilherme Ceron
Pedro Borghetti e CeronFlachNeves Guilherme Ceron, Lorenzo Flach e Bruno Neves Part. Paola Kirst e Gabriela Lamas
Equipe e Produção Wagner Lagemann | Técnico de Som, gravação de áudio e produção
Tamiris Duarte | Comunicação, palco e produção
Thais Andrade | Iluminação, direção de palco e produção
Paola Kirst | Figurinos, cenografia e produção
Lucas Fê | Palco, som e produção
Pedro Borghetti | Palco, cenografia e produção
Vinícius Angeli | Vídeo e Produção
Assistentes de Som e Palco
Lucas Ramos, Pedro Worthman, Guilherme Ceron, Gabriel Soares, Venancio da Luz
Captação de Foto e Vídeo
Vinícius Angieli, Alexandre Birck, Lau Baldo e Ana Vieira
Assistências
Jeloks, Paula Hanke, Clarissa Ferreira, Rafael Costa, Tamires Menezes, Carol Zimmer, Betina Carminatti, Camila Sequeira, Renan Bernardi
Apoio
FM Cultura Livre! Cozinha Experimental Patuá Conteúdo Criativo Cervejaria DaLuz
Cervejaria Vento Livre
Sobre a Pedra Redonda
O coletivo multi-artístico, espaço cultural, estúdio de gravação e selo, que integra, apoia e movimenta a cena local do sul do Brasil em diálogo com países latinos como Uruguai e Argentina. Formado por artistas de diversas áreas como música, audiovisual, fotografia e dança, o coletivo nasceu em 2018, fruto das interações entre as pessoas que circulavam no estúdio da Pedra Redonda, de Wagner Lagemann, em Porto Alegre. Ao longo destes anos, produziram e produzem diversas ações educativas e artístico-culturais como oficinas, shows, videoclipes, gravações e distribuições digitais.