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 aprendendo através 

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Aprender através é tirar proveito de cada situaçãocada acontecimento e cada descoberta. Aprender através é, em última instância, não fetichizar o saber. É a prática crítica diária para si e para o mundo. Aprender através é fazer uso do que se aprende para transformar a forma como se vive, se faz, se produz, se relaciona.

Aprender através é aprender com o mundo e se alterar. E nessa alteração, alterá-lo. Pois não há separação entre um e o todo. Quando propomos aprender através de arte, nunca é apenas sobre arte. Pois podemos aprender através de absolutamente tudo.

E como diz a canção: ainda é cedo para não tentar”.

 

Tentemos juntos.

Quando um motivo encontra um anseio, uma vontade ou mesmo um desejo, coisas incríveis podem acontecer. E, quando o motivo e o desejo se atravessam, vemos caminhos e possibilidades costurarem o real.


Aconteceu nos dias 28 e 29 de Outubro no Teatro Renascença em Porto Alegre, o primeiro festival Quintal da Pedra Redonda: uma nova - dentre tantas - centelhas de esperança que esta coletividade fez existir no mundo. Uma celebração de pessoas, lugares, artistas e sons que carregou consigo energias dignas da transição para um novo tempo.

 

Da esquerda para a direita: Vinícius Angeli, Pedro Borghetti, Tamiris Duarte, Wagner Lagemann, Paola Kirst, Venancio da Luz, Thaís Andrade. Dionísio Souza, Clarissa Ferreira, Dessa Ferreira, Dona Conceição, Paulo Romeu, Dionísio Souza, Lucas Fê, Paola Kirst e Marcelo Vaz

 

O festival, realizado de forma independente pelo coletivo Pedra Redonda, que orbita e habita o Estúdio Pedra Redonda de Wagner Lagemann, materializou uma vez mais sua capacidade de mobilizar e mover corações, mentes, corpos e sentidos na construção de algo que, além de transcender as paredes do estúdio, transcendeu também as paredes do teatro Renascença. Artistas, profissionais e gentes de toda estrada, interessadas e interessados em dar vez ao som e as vozes de quem vive, faz e é música.


O line-up contou com artistas que gravaram e circundam o estúdio e o coletivo. Ao primeiro dia do festival, apresentações de Dona Conceição, Dessa Ferreira, Venancio da Luz Sexteto e Paola Kirst + Kiai Grupo. Já o segundo dia contou com apresentações de Dionisio Souza, Tami Trio + Paulo Romeu, Clarissa Ferreira e Pedro Borghetti + CeronFlachNeves. Os shows contaram com diferentes composições, formatos e diversas participações. Dentre elas, artistas como Fabricio Gambogi, Dessa Ferreira, Gutcha Ramil, Paola Kirst, Tamiris Duarte, Lucas Fê, Dionisio Souza, Idòwú Akínrúli, Mel Souza, Gabriela Lamas, Emily Borghetti, Pedro Roots e Guilherme Ceron. Você pode conferir a lista detalhada de cada apresentação mais adiante.


O Quintal da Pedra Redonda ocupou ainda mais espaços do Centro Municipal de Cultura Lupicínio Rodrigues, onde habita o Teatro Renascença. Com comidas veganas, bebidas e sorrisos oferecidos por parceires como Livre! Cozinha Experimental e Cervejaria DaLuz e projeções de vídeos por 229 Visuais, ocorreu também uma roda de conversa sobre práticas em coletivo. O encontro, mediado por Thais Andrade - que para além de ser linha de frente da produção e iluminação do Festival, abriu também as portas não apenas da Pedra Redonda. Com a participação de integrantes do Instituto Sociocultural Afro-Sul Odomodê, OCorre Lab e Armazém Sonoro, uma vez mais o coletivo conectou pessoas e práticas de todas as formas e cantos.

Festival Quintal da Pedra Redonda. Porto Alegre
Quintal da Pedra Redonda | 28/10/22 | Por Vinícius Angeli @viniangeli

Sempre que posso, faço uso do texto curatorial de Júlia Rebouças e Diego Matos sobre a obra de Cildo Meireles. Uma vez terminado o festival, uma vez que nossas dores viraram sorte, me deparei com a seguinte passagem sobre espaço, onde dizia que “trata-se do espaço humano da experiência, ampliado por aquilo que nos é tangível e perceptível pelos nossos sentidos”. Quando falo em coletivo-espaço, falo dessa experiência humana. Tangível, perceptível e divergente da lógica individual-competitiva que assola nossos tempos.


A Pedra Redonda é preciosa. Um diamante bruto que vem sendo lapidado a muitas mãos, cuidado e afeto por multiartistas e profissionais que entendem o som, as artes e o trabalho enquanto oração, tal qual canta Marcelo Delacroix. Para além dos sentimentos e sensações, há em mim uma grande aposta de que os brilho da Pedra, suas práticas e aqueles e aquelas que a compõem poderá iluminar caminhos, palcos, olhos e ouvidos para além das fronteiras do Sul.


A primavera ideal deverá ter todas as cores e sotaques de nossa vastidão territorial. E de certo, meio a ela estarão todas e todos aqueles que além de desafiar as tradições locais, entenderam que a tarefa da produção é uma tarefa coletiva.


Expressões apaixonadas pelas cintilâncias desse coletivo-espaço à parte, o estar e a presença nos dão dimensões e camadas a processos. A presença rompe o plano das ideias e do imaginário. Poder estar na presença - após tantas distâncias acumuladas pela penumbra que nos assolou e isolou - foi também testemunhar tamanho empenho, tempo e trabalho coletivo para que essa experiência-evento fosse realizada.


O texto que você lê é o primeiro de uma série de registros. De desenvolvimento de ideias através das artes e das sensibilidades. De mediação através. Pelo caminho, textos, registros e fragmentos sobre artistas e coletividades envolvidos nesta empreitada. Mais um motivo que encontra um desejo: refletir sobre a grandeza de suas expressões no mundo. Até lá, convido todas a conhecer esse grande ajuntamento para que embarquemos juntos nessa jornada.

E viva à Pedra Redonda!



Festival Quintal da Pedra Redonda 28 de Outubro (Sexta-Feira)

Dona Conceição Part. Fabricio Gambogi, Dessa Ferreira e Gutcha Ramil


Dessa Ferreira Part. Idòwú Akínrúli, Dionísio Souza, Paola Kirst, Tamiris Duarte e Lucas Fê


Venancio da Luz Sexteto Bibiana Turchiello, Tamiris Duarte, Gabriel Romano, Jean Godoy e Lucas Fê


Paola Kirst e Kiai Grupo Dionísio Souza, Marcelo Vaz e Lucas Fê Part. Mel Souza e Gabriela Lamas


29 de Outubro (Sábado)

Dionísio Souza Part. Lucas Fê, Paola Kirst e Tamiris Duarte


Tami Trio + Paulo Romeu Tamiris Duarte, André Brasil e Lucas Fê Part. Dionísio Souza, Emily Borghetti, Paola Kirst e Pedro Roots


Clarissa Ferreira Ana Matielo, Tamiris Duarte e Lucas Ramos Part. Emily Borghetti, Lucas Fê e Guilherme Ceron

Pedro Borghetti e CeronFlachNeves Guilherme Ceron, Lorenzo Flach e Bruno Neves Part. Paola Kirst e Gabriela Lamas


Equipe e Produção Wagner Lagemann | Técnico de Som, gravação de áudio e produção

Tamiris Duarte | Comunicação, palco e produção

Thais Andrade | Iluminação, direção de palco e produção

Paola Kirst | Figurinos, cenografia e produção

Lucas Fê | Palco, som e produção

Pedro Borghetti | Palco, cenografia e produção

Vinícius Angeli | Vídeo e Produção


Assistentes de Som e Palco

Lucas Ramos, Pedro Worthman, Guilherme Ceron, Gabriel Soares, Venancio da Luz

Captação de Foto e Vídeo

Vinícius Angieli, Alexandre Birck, Lau Baldo e Ana Vieira

Assistências

Jeloks, Paula Hanke, Clarissa Ferreira, Rafael Costa, Tamires Menezes, Carol Zimmer, Betina Carminatti, Camila Sequeira, Renan Bernardi


Apoio

FM Cultura Livre! Cozinha Experimental Patuá Conteúdo Criativo Cervejaria DaLuz

Cervejaria Vento Livre


Sobre a Pedra Redonda

O coletivo multi-artístico, espaço cultural, estúdio de gravação e selo, que integra, apoia e movimenta a cena local do sul do Brasil em diálogo com países latinos como Uruguai e Argentina. Formado por artistas de diversas áreas como música, audiovisual, fotografia e dança, o coletivo nasceu em 2018, fruto das interações entre as pessoas que circulavam no estúdio da Pedra Redonda, de Wagner Lagemann, em Porto Alegre. Ao longo destes anos, produziram e produzem diversas ações educativas e artístico-culturais como oficinas, shows, videoclipes, gravações e distribuições digitais.





































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Atualizado: 19 de nov. de 2024



Henfil ocupa um lugar de retorno para mim. Mas não apenas para mim. As muitas ciclicidades do mundo, de pessoas, ideias e tendências se tornam e (re)tornam. Retornam pelos ecos que sintetizam. Quando a expressão parte de uma ideia, quando passamos a imaginar imagens, palavras e sons para materializar uma ideia. transcendemos o plano das ideias para o plano material.


A criação, o que Henfil chamava de “desenho” - afinal, esta era a linguagem de expressão de suas ideias-mundo - é um processo de dança entre o material e o ideal. Entre imaginação, a análise e um bocadinho do sonho. Toda imagem imaginada parte do real. Até mesmo o sonho. Não me agrada em nada como quem pensa o mundo e as relações-mundo têm tratado o sonho. E acho que Henfil concordaria comigo, como já disse em carta ao próprio Henfil (que você pode ler e ouvir aqui)


Henfil é uma de muitas provas de retorno. Para além de tudo em que sua produção nos atravessa, na expressão de ideias e sentimentos coletivos. Sem desculpas, sem ressalvas. Papo reto não tem curva, já diria Chorão. E Henfil era do papo reto.


Fosse do Pasquim, nas Cartas para Dona Maria, onde Henfil, como sempre, encontrava brechas para desaguar e ecoar suas indignações, pensamentos frente ao escárnio da ditadura empresarial-militar. Henfil nos atravessou. Por diversos suportes e meios: com ideias e imagens através do desenho, do cartum, da imagem, da palavra, do filme, da voz.


Mas hoje, uma vez mais, faço uso de meu amigo de viagens no tempo e companheiro Henrique de Souza Filho. O rebelde do traço, Henfil. Para trazer uma reflexão sobre talento, criatividade e processos. Resgatando os originais, como já ensinara o querido professor Gustavo Prieto.


O livro-entrevista “Como se faz Humor Político” (2014), lançado em sua primeira edição em 1984, a partir de relatos mediados pelo jornalista Tárik de Souza, possui preciosas ideias e visões de mundo e sobre processos de Henfil. Longe-de-mim ser estraga prazeres ou dar spoilers. Porém convido você e todas, todos e todes os talentos para a audição e leitura dessa “entrevistexto”.


Boa viagem. E bons retornos. Mandem um beijo ao camarada Henfil.

Referências :


Como Se Faz Humor Político / Henfil: Depoimento a Tárik de Souza. São Paulo, Kuarup, 2014.

Joyce. “Opinião”, em Passarinho Urbano, 1976. Composição: Zé Kéti

Glauber Rocha. Programa Abertura. TV Tupi, 1979

Fred Hampton. Discurso Público, 1969

Rosinha de Valença. “Consolação”, ao vivo na Alemanha, 1966. Composição: Baden Powell e Vinicius de Moraes.






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Atualizado: 19 de nov. de 2024


Já sentiu aquele arrepio ao imaginar uma imagem? Ou mesmo já pensou no quanto mobilizamos para criar uma imagem imaginada? Imaginar uma imagem combina memória, criatividade, imaginação, narrativa, sentimentos e emoções. Ao imaginar uma imagem, pode-se tanto ir para transportar para algum lugar quanto criar um lugar. Por vezes, uma imagem imaginada pode ser tão impactante que nos move para caminhos de medo, desespero e insegurança. Hoje, falo sobre nossa capacidade de imaginar imagens como uma de muitas curas ao acúmulo de traumas, dores e do terror vivido nas últimas quadras históricas. Mas não apenas delas.


Digo já a certo tempo sobre a capacidade da experiência estética coletiva, da mediação para a catarse e despertar de paixões. Não atoa, em momentos de efervescência socio-histórico-política, arte e a cultura - através de pessoas e espaços - forjam novas imagens. Em espiral, se fundem em múltiplas construções, constituindo, temperando e engrossando o caldo que alimenta a história do mundo. Não podemos deixar de imaginar imagens.


Precisamos imaginar as imagens que queremos imaginar. Pois, uma vez possível ver uma imagem imaginada, não é possível desvê-la - daí a origem e perigo das imagens imaginadas.

O ato de imaginar imagens podem dar forma a ações que a materializem. De certo, a imagem imaginada dificilmente é idêntica ai que se constrói no real. Mas, na subversão da imaginação em (cri)atividade, trabalhamos nossa capacidade criadora, construtora e (re)construtora. Quando criamos nossas imagens imaginadas de forma coletiva, estamos transcendendo o campo da expressão artística. Passamos a criar novos mundos.



No processo de descolonizarmos nossas imaginações e horizontes sem nos desprender da razão, imaginando imagens coletivamente, é possível inclusive que transformemos a própria razão de ser. E, quem sabe, parafraseando Jorge Larrosa, consigamos chegar a novas razões.


Acredito que a partilha de imagens imaginadas seja uma das mais potentes ferramentas de construção e criação coletivas. Partilhando imagens imaginadas, partilhamos sonhos e caminhos para crochetar o real através: da criação, da transformação, da organização e da cura.


Hoje, mais do que nunca, não podemos abrir mão de imaginar novas imagens e futuros.


Me conte uma imagem imaginada, para que juntas, juntos e juntes, possamos compor um novo amanhã.


Se o fizermos, nada será por acaso.


De poema em poema, como já diria Zelito Ramos ( @zelitoramos )




São Paulo, 01 de Outubro de 2022



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