Depuração é verbo e ação. É o ato de depurar. Depurar, por sua vez, é uma ação de refinamento, de limpeza de ruídos. Uma ação de processar de forma crítica. Depurar, às vezes leva tempo. Enfrentar algo, olhar para isso - a situação, a ação, o pensamento, o fenômeno, o acontecimento. Sentir, avaliar, refletir, e dar-se o direito de tentar compreender. E hoje convido vocês para conversarmos um pouco sobre depuração e curiosidade.
Hoje a titia tem uma pergunta para para vocês aí que lêem, vêem e escutam na internet e mundo afora. Uma pergunta simples, mas que me preenche com aquela curiosidade epistemológica atroz e alguém que constantemente busca encontrar formas de pensar, lidar, mediar e existir no mundo. E essa pergunta só possui quatro palavrinhas: Como você depura coisas? Como faz uso do que existe para depurar aquilo que sente, aquilo que te alterna estados de apatia, sinestesia. De luz, de sombra e de escuro.
É como já disseram Júlia Rebouças e Diego Matos naquele texto curatorial lindo da Exposição "Entrevendo Cildo Meireles": “quando não bastam os perceptos, vem os sentidos e seus afetos”.
Mas antes de entrar no campo das depurações e indagações, acho importante alinharmos esse entendimento de curiosidade e de epistemologia. Dois minutinhos de atenção aqui para a titia:
Curiosidade epistemológica é um conceito, uma categoria muito utilizada pelo educador e pesquisador Paulo Freire, onde caracteriza essa curiosidade pelo saber no sentido epistemológico.
Já a tal da epistemologia que tanto falo por aí, é o que chamamos de teoria do conhecimento. São as reflexões gerais em torno do mundo "etapas e limites do conhecimento humano, nas relações que se estabelecem entre o sujeito indagativo e o objeto inerte, as duas polaridades tradicionais do processo cognitivo" segundo aquele dicionário inglês.
A curiosidade epistemológica é então, o cultivo, interesse e que, com a prática se torna cada vez mais consciente. Freire diz naquele livro lindo sobre "A Pedagogia da Autonomia" que “quanto mais criticamente se exerça a capacidade de aprender, mais se constrói” a curiosidade epistemológica.
Uma das milhares ferramentas, instrumentos e dispositivos que a gente conhece, cria ou simplesmente faz e pratica é a arte. Já disse a poeta Systhar Coragem, artista do extremo leste que no auge de seus 64 anos de juventude nos disse em uma das atividades do projeto Erupções Periféricas: a arte de viver...em si. No fim de tudo, toda e qualquer prática vem...da prática.
Muita coisa da vida eu depuro através de Arte. Das poesias que seres humanos pariram para que eles também depurarem esses mistérios, verdades e sentires de estar vivo. E de viver essa vida no mundo. Em um mundo ainda mais caótico do que qualquer uma dessas coisas que criamos formas de objetivar, fazer existente e vivo no espaço-tempo.
Quando essa poesias da existência nos cortam - como boas facas que são - , até complexas cirurgias mentais e de espírito operam. E assim, sem qualquer preparo ou mesmo equipamento. As facas das artes, do registro do conhecimento e sensibilidades cortam as gentes. E as gentes cortam o mundo. E cortando o mundo as gentes abrem caminho pra que no prato não haja apenas comida e tristeza. Que nossos peitos não sejam sempre desertos e que nossos segredos não estejam mais tão guardados.
Acho incrível quando alguém já disse as palavras que buscava ou pensava. Nesse infinito finito de tempos e pessoas... se buscarmos, encontramos.
Mas a dica é: quando não encontrares as palavras que buscas: as coloque no mundo. Pinte os dias com as razões do teu sentir.
Quem sabe assim, no centro da sala e diante da mesa, outras pessoas encontrem nessas razões, nos sentires...ou mesmo no próprio ato de fazê-lo as palavras que estavam buscando. Mesmo quando não não há palavras envolvidas.
Que nossas curiosidades epistemológicas se façam presentes na hora dos desafios, das partilhas e da busca pela compreensão do mundo, e de nossa passagem por ele. E de como torná-la eterna através da experiência, dos registros e coletividades no tempo.
Sozinhes dá. Mas juntando gente é mais legal.
Repito, uma vez mais após 3 anos do Manifesto do Aprendendo Através: uni-vos!
Comments